Carta do Presidente SSZB dobre o Eisho-ji

Carta aberta aos poderes públicos e às comunidades de Pirenópolis 
e do Estado de Goiás, Brasil. 

Na noite do último 20 de fevereiro um grupo armado tomou de assalto o Mosteiro Eisho-ji, localizado na Várzea do Lobo, Pirenópolis, Goiás. Rendidos com violência, os participantes do retiro espiritual iniciado poucas horas antes da inesperada invasão foram imobilizados em um dos aposentos do templo, enquanto os agressores fugiam levando celulares, computador portátil e um veículo 4x4, logo adiante abandonado após capotamento no trecho de terra que liga o mosteiro à rodovia Pirenópolis-Goianésia. Os assaltantes evadiram-se do local do acidente, aparentemente sem ferimentos, para destino ignorado. No dia seguinte, as autoridades policiais foram devidamente informadas e as investigações estão em curso.
Em meio a esta triste nota, poderia ser perguntado: - “Afinal, o que é praticado pelos monjas, monges e leigos no mosteiro Eisho-ji?”
-  “Nada de especial”. Sentar em samadhi, cozinhar, fazer limpezas, lavar roupas, dormir, tomar chá, comer arroz, suster os sutras são a prática diária de todos os budas, transmitida de mestre para discípulo desde tempos imemoriais.
Esse Dharma (aqui caberia ser traduzido por ensinamento) budista é muito antigo. Remonta ao sexto século antes da era Cristã.
Na China pré-moderna, renomados Imperadores entendiam por bem reconhecer como tesouro nacional o manto que fora vergado por um Mestre autêntico. E não estamos aqui a falar de uma peça brocada em ouro, prata ou diamantes. Esse tipo de deferência oficial nas principais dinastias chinesas dirigia-se ao típico manto budista, confeccionado com trapos e costurados no formato de um campo de arroz.

Esse tipo de simplicidade nos assusta, pois está fora do alcance de nossas mentes obcecadas por anseios materiais, energias saturadas de angústias, histerismos, desesperos e egoísmos.
Numa sociedade consumista como a dos tempos atuais é mesmo difícil para nós compreendermos o valor inestimável de um ensinamento que se traduz no manto e na tigela de um monge.

Por sorte, no ano de 1968 o Brasil recebeu como missionário o Monge Ekyu Ryotan, enviado pela Escola Soto do Japão para atuar junto a Ryohan Shingu, superior na matriz sul-americana sediada em São Paulo.
Monge Tokuda, como carinhosamente é tratado, não se limitou ao círculo da comunidade japonesa e, juntamente com brasileiros, constituiu grupos de prática em vários Estados da União e fundou em Belo Horizonte no ano de 1980 a Sociedade Soto Zen do Brasil, uma associação brasileira de praticantes do zen budismo.
Nessa sua trajetória, levantou templos e mosteiros, dentre esses o Mosteiro Zen Horyu-Zan Eisho-ji, em Pirenópolis, cujas terras foram compradas com doações do próprio Mestre Tokuda (que trabalhou duro no exterior para levantar parte do dinheiro necessário) e de outros monges, monjas e leigos, alguns abrindo mão de bens pessoais para que o terreno pudesse ser adquirido com a finalidade de sediar um mosteiro zen budista.
Eisho-ji é hoje a sede da Sociedade Soto Zen do Brasil, uma organização religiosa, sem fins lucrativos, que tem por objetivos:
·         desenvolver estudos para o aprimoramento e crescimento do ser humano em seus aspectos físico, emocional, mental e espiritual;
·         promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da cultura e de outros valores universais;
·         defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável.

O projeto para o terreno de Eisho-ji, idealizado pelo Mestre Tokuda Igarashi, prevê a recuperação e preservação ambiental de todo o conjunto de nascentes e mananciais, cachoeiras e seus ecossistemas de fauna e flora, a constituição de banco de dados repositório de sementes do cerrado, viveiro de plantas nativas e ornamentais, um mosteiro zen tradicional para treinamento de monges e monjas, um museu da Bíblia, uma capela ecumênica e parques florestais abertos ao público em geral.
Sediado em Pirenópolis, projeto de tal envergadura e alcance transfere para a histórica cidade goiana e a seus habitantes os méritos advindos da preservação ambiental e desenvolvimento humano que a seu tempo merecerá reconhecimento nacional e internacional.
Pelas razões acima apresentadas, conclamo aos poderes públicos e às comunidades de Pirenópolis e do Estado de Goiás a, juntamente com a Sociedade Soto Zen do Brasil, repudiarem veementemente o ato criminoso referido no início desta carta aberta.

Elcio Shoun
Presidente da Sociedade Soto Zen do Brasil 

Postagens mais visitadas deste blog

Templo Zen Budista Komyoji: novo endereço

Seirenji: Centro Zen do Recife

Mestre Tokuda